terça-feira, 15 de maio de 2012

Aos 67 [corrigindo 64 ] anos, a cantora não perde o vigor criativo e a irreverência Irlam Rocha Lima


Aos 67   [corrigindo   64 ]  anos, a cantora não perde o vigor criativo e a irreverência
Irlam Rocha Lima




Rita Lee, a eterna ovelha negra do rock nacional, sempre quis estar na contramão. Não foi surpresa, portanto, quando na noite de 29 de janeiro último, durante um show em Aracaju, investiu asperamente contra policiais sergipanos, saindo em defesa de fãs que supostamente fumavam maconha. A reação lhe trouxe consequências desagradáveis, como um processo na Justiça.

Não por acaso, Reza, seu primeiro disco de músicas inéditas depois de quase uma década, traz na abertura Pistis Sophia, cantoria para espantar os males, uma espécie de exorcismo, inspirado na religiosidade nordestina, na qual, como uma carpideira, diz: “Nossa Senhora Aparecida/ Dai-me força nessa vida/ Pra remar meu barco até o porto/ Deus é pai, num é padrasto/ É salvador, num é carrasco/ Escreve certo meio torto…”.

Saudado com entusiasmo pela crítica, Reza está dando o que falar, a começar pela faixa-título, presente na trilha sonora da novela Avenida Brasil, um quase mantra, em que fecha pedindo: “Deus me acompanhe/ Deus me ampare/ Deus me levante/ Deus me dê força/ Deus me perdoe por querer/ Que Deus-me-livre-e-guarde-de-você”. Sobre o conteúdo do álbum, a cantora revela: “São 14 orações: cristãs, pagãs, porraloucas, mundanas, nirvânicas, macumbinha caseira, coisa de benzedeira. Tudo gravado na garagem de casa, very rock’n’ roll”.

Dessa nova safra de canções, quatro ela assina sozinha: Pistis Sophia, Bixo grilo, Bagdá, Bamboogiewoogie. As outras 10 ela compôs com o eterno parceiro — ela prefere chamar de cúmplice — Roberto Carvalho, entre elas Tô um lixo, Divagando, As loucas, Tutti fuditti, e o hit instantâneo Reza. Há, ainda, Pradise Brasil, com letra em inglês, que termina misturando Tropicália com Carmem Miranda, muamba com macumba.

Prozac auditivo
No texto que escreveu para a revista Cult, Ed Motta, parceiro eventual de Rita, afirma que Paradise Brasil é a sua favorita e explica o porquê: “Esse tema deveria tocar no mundo inteiro. Um house-disco com a excelência de arquitetura pop, que papai do céu presenteia poucos. Prozac auditivo, alegria e euforia de champanhe, a festa glamorosa, sempre presente na música dos dois”.

Mestra em desafinar o coro dos contentes, em As loucas, ela manda: “Eles amam as loucas/ mas casam com outras/ Loucas fatais/Loucas de pedra/ Loucas varridas/ Loucas fudidas/ Loucas molhadas/ Loucas taradas/ Loucas getiche/ Loucas haxixe…”. Meio de saco cheia de muita coisa, Rita usa Vidinha para desabafar: “Vidinha besta/ Vidinha furreca/ Vidinha chinfrim/ ô vidinha de merda…”

Entre rock, pop, climas psicodélicos e batidas eletrônicas, Rita fez um disco para gostos específicos (os admiradores) e variados (o público em geral), com texto afiado e pertinente. Sob a batuta de Roberto Carvalho, à guitarra e teclados e programações eletrônicas, conta com o auxílio luxuoso do filho Beto Lee (guitarras e vocais), Iggor Cavalera (bateria), Serginho Carvalho (baixo), João Parahyba (bateria), Apollo Nove e Débora Reis (vocais).

Entrevista Rita Lee

Rita, por que privou os fãs de um disco de inéditas por tanto tempo?
Preguiça, meu amor. Preguiça de sair de casa, enfrentar o trânsito de Sampa, pagar aluguel de estúdio e por aí vai. Depois que a nossa garage-studio ficou pronta, ainda demoramos três anos para tomar coragem e começar a gravar feito gente grande. Mas agora a gente não para mais.

Entre as canções do Reza, a maioria foi composta recentemente?
Já preguiça de compor, nunca tivemos. Há músicas como Pistis Sophia, Bagdá, Tutti Fuditti, Reza e Bambooguie, que foram compostas durante esse hiato. As que fizemos no estúdio foram Vidinha, Tô um lixo, Rapaz, Pow, Divagando. Deixamos de fora do disco várias, dá pra gravar outro trabalho só com inéditas.

Reza, a canção, soa como um mantra. Era esse o objetivo?
Reza é uma oração de autoproteção, coisa de benzedeira, macumbinha caseira e, claro, um mantra diário.

A letrista tão afiada, sempre ligada em tudo, cria versos só com a inspiração ou há necessidade de transpirar para criá-los?
Não sei responder assim na chincha, o que me inspira é minha vida e o mundo ao redor. Às vezes, baixa o santo e psicografo em cinco minutos, em outras o santo baixa em doses homeopáticas, e em outras ainda sou eu mesma, mas transpirar não transpiro, não.

Sons eletrônicos são tão bons quanto o som da guitarra de Roberto?
A guitarra de Roberto é poderosa e porreta, ele e Beto Lee são os reis do meu iê-iê-iê. Sempre fui chegada a eletronicidades, quando fiz parte dos Mutantes eu viajava muito sozinha para trazer instrumentos que ninguém tinha, como melotron, minimoog, theremin, clavinet e outros balangandãs.

Trinta e cinco anos depois, a longeva parceria com Roberto Carvalho mantém-se com viço. Qual é o segredo para a permanente alquimia?
Não é uma receita de bolo, está mais para sorte de ganhar a Mega-Sena. São 36 anos de parceria musical e amorosa, três filhos e vários hits, temos os dois gênios fortes, ambos brigam para que uma música saia nos trinques. Trabalhar com Roberto é uma inesgotável fonte de admiração, sou apaixonada por ele.

Como alguém tão em forma se autoproclama “um lixo”?
Você deve estar se referindo à música Tô um lixo… Pois é, a letra foi inspirada numa perua simpática que encontrei na sala de espera do dentista. A mulher chorava nos ombros de quem estivesse perto por conta de uma plástica que deu errado, ela dizia eu era tão linda, hoje tô esse lixo disforme e deprê... Realmente, não posso reclamar, pra 67 anos eu tô bonitinha.

Lixo é a politicagem neste país. Como você avalia essas denúncias sujas que não param de rolar?
Cruzes, é cada porrada que recebemos da bandidalha que assola Brasília que Deus me defenda. Era para a gente já estar acostumada, mas teimo em acreditar que dias melhores virão. Sou apaixonada pelo meu país, penso que o voto obrigatório é em grande parte responsável pela eleição desse bando de escrotos que não param de nos assaltar. Voto não é dever, é um direito.

Quem não pode parar é a mãe do rock brasileiro. Teremos uma turnê do Reza?
Oh, my dear, por enquanto estou bem do jeito que estou, but who knows, como diria Doris Day, que será, será!

Dilma Rousseff está mandando bem?
Não tenho votado nas últimas eleições, pago multa, mas não pago mico. Nunca acreditei que Dilminha (é mais jovem que eu) fosse boneco de ventríloco do Lula, o tempo tem provado que eu tinha razão. O que empaca a vida dela é o lixo que herdou do governo anterior. Aconselho nossa presidente a cantarolar Reza assim que acordar de manhã.

Reza
CD de Rita Lee com 14 faixas, produzido por Roberto Carvalho e Apollo Nove. Lançamento Biscoito Fino. Preço: R$ 29.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Déda diz que marido de Rita Lee confirma exagero no Show


Governador garante que para o Executivo assunto está encerrado
Deda: "Marido quis dizer que houve exagero" (Fotos: Portal Infonet)
A confusão do show da cantora Rita Lee na Barra dos Coqueiros na programação do Projeto Verão Sergipe, em janeiro de 2012, continua repercutindo. Na noite deste domingo, 8, o jornalista Zeca Camargo [Fantástico, da Rede Globo] iniciou uma entrevista com a artista falando justamente do show na capital sergipana. Rita Lee destacou que o sucesso da música ‘Reza’ é uma “vingança gostosa, de você dar o troco. Uma resposta da gente com os fãs, da transparência com a música. Versos como ‘Que Deus me livre e guarde de você’ parecem mandar um recado. É uma maravilhosa coincidência divina”.
Nesta segunda-feira, 8, o governador Marcelo Déda afirmou que assistiu à entrevista. “Eu acompanhei a entrevista e acredito que de certo modo, o que o marido da cantora Rita Lee quis é que por conta do problema de saúde, houve um exagero no episódio do show. Do ponto de vista do Governo do Estado, o caso está encerrado. O problema está no Ministério Público em virtude do inquérito policial. É um assunto que não diz respeito ao Poder Executivo”, entende Marcelo Déda.
Show da cantora na Barra dos Coqueiros
Quando o jornalista Zeca Camargo perguntou à cantora Rita Lee se o show era uma despedida, ela respondeu: “Olha, meu amor, eu acho que foi tudo muito rock and roll”. Como a cantora ainda não pode falar sobre o assunto, o marido Roberto de Carvalho afirmou que “a Rita não podia falar sobre o assunto. Ainda não pode falar sobre o assunto. Nós nunca tínhamos estado em uma situação em que a polícia resolve dar geral nas pessoas que estão em frente ao palco”, destacou.
Quanto à pergunta se o problema de saúde [Transtorno Bipolar] teria contribuído para a confusão no show. Se faltou medicamento, Roberto Carvalho respondeu que “era uma fase em que o medicamento ainda estava sendo buscado. Não que a Rita não tivesse sido provocada. Ela foi provocada. Mas a reação talvez tenha sido um pouco indesejada”.
A proposta do Ministério Público é para que Rita Lee preste serviços comunitários por um período de três meses e doe o cachê de R$ 115 mil recebido pelo show pago pelo Governo de Sergipe quando da realização do Verão Sergipe 2012
Por Aldaci de Souza

“Reza”


a "vidinha de merda" da Rita Lee 

ouvi deliciado o novo disco da Rita Lee. Chama-se “Reza” e é possível escutá-lo inteiro aqui neste canal do YouTube.
Rita Lee é a maior compositora do Brasil. E uma das coisas que mais gosto nas criações dela é sua ironia autodepreciativa. A senhora Lee detona deus e o diabo, mas detona ainda mais a ela própria. “Vidinha” prova isso. Rita “toma ansiolítico, em estado crítico” e sua vidinha anda besta, furreca, chinfrim. Enfim, uma vidinha de merda. 

olha, se a vida da Rita Lee, que é uma popstar, está uma merda, coitados de nós, que somos ninguém e também tomamos ansiolítico.

em outra canção, “Tô um Lixo”, ela dispara: “Eu vivo pelos cantos feito bicho, eu tô um lixo”. Rita parou de fumar, parou de beber, parou de jogar, parou de ser aquela peste. Nem banho toma mais, trabalho tanto faz e sua cabeça está um jazz.

a minha também, Rita. E eu também “não sei onde estava antes de nascer” e ”não sei pra onde vou depois de morrer”.

Rita Lee deve ter escrito algumas canções sob efeito de sua "Coca-gororoba-Cola" de tão nonsenses. “Humberto Eco, eco, eco, eco/ Alegro, alegro, ma non treppo” canta no refrão de “Tutti Fuditti”. Em outra, chamada “Bagdá”, rima “Saddam Hussein pra lá” com “aiatolá pra cá” e mistura tabule, esfiha, quibe, húmus com... vatapá.

tem ainda a Rita feminista no rock “As Loucas”, petardo contra os babacas machistas que separam as “loucas” das “outras”. Canta: “Eles amam as loucas, mas se casam com outras”. E explica: “Para um jantar, as educadas/ Para um noivado, as comportadas/ Para um negócio, as poucas/ Para uma sacanagem, as loucas”.

tema do personagem de Alexandre Borges em “Avenida Brasil” e sucesso instantâneo, “Reza” é a melhor oração musicada já escrita: “Deus me perdoe por querer que Deus me livre e guarde de você”.

reza de proteção contra qualquer imbecil que tente jogar a sua praga e o seu veneno contra nós. Aos 64 anos, Rita Lee continua afiada e mais "macha" que muito roqueiro brasileiro que vaga por aí com sua "cara de bandido" almofadinha.   por

domingo, 6 de maio de 2012

Rita Lee lançando seu disco REZA


Rita Lee & nós, tutti fuditti


 
Reza (2012)

Por Pedro Alexandre Sanches | Ultrapop






Houve nove anos de hiato entre o álbum inédito anterior de Rita Lee e o novo, que está chegando às lojas agora. Demorou, mas os semideuses e os hiperplebeus tropicalistas estão em festa:Balacobaco (2003) era inspirado, e este Reza é mais ainda. A desobrigação e a ruína da indústria fonográfica fazem bem à beça à mais importante compositora popular brasileira.
Permanece o truque-isca de Balacobaco: uma melodia chatinha para grudar nos ouvidos da multidão, via trilha de novela. EmBalacobaco era "Amor e Sexo", que musicava uma crônica do reacionário de plantão da Globo, Arnaldo Jabor. Desta vez é "Reza", de Rita e Roberto de Carvalho, em cartaz na atual Avenida Brasil global. Reza (o disco) é bem mais inspirador que "Reza" (a balada pop-rock), assim comoBalacobaco era bem mais consistente que apenas "Amor e Sexo".
A própria letra de "Reza" flagra Rita em um de seus muitos instantes brilhantes. Pertence à categoria das canções de ódio de anos recentes, nos quais vêm se esmerando ela, Caetano Veloso e Maria Bethânia. "Deus me perdoe por querer/ que Deus me livre e guarde de você", dispara a ídola em diálogo direto com um fã imaganário que não sabemos quem é (mas podemos ser, e somos, você e eu). Se em 2000 Caetano se movia contra a fé em linguagem cifrada, em  "Zera a Reza", Rita é mais direta: chama um treco de reza e se põe a xingar muito no CD ("Deus me defenda da sua macumba", "Deus me imunize do seu veneno"), qual Bethânia em sua recente "Carta de Amor".
Rita já explorara o veio da canção-xingo em duas das poucas canções inéditas incluídas num disco de sucessos ao vivo de 2009. "Se Manca" soltava bombinhas em religiosos ("nem vem falar de Jesus, você é pecador"), ambientalistas ("não me vem com papo ecológico, você é poluidor"), ricaços, intelectuais e outros chatos de plantão ("se manca, neném/ gente mala a gente trata com desdém"). No delicioso rockão "Tão", arremetia contra uma figura que ela jamais há de admitir, mas tem tudo a ver com Sandy Leah: "Tão boazinha/ tão certinha/ tão discreta/ tão correta/ tão modesta/ tão honesta/ tão decente/ tão boa gente/ tão cordata/ tão sensata/ tão, tão, tão, tão.../chata, chata!". Dinamite pop pura, à altura da Rita mutante, da Rita tutti-frutti ou da Rita roberta-de-carvalha.
Reza tem várias variáveis de canções-xingos. Em "As Loucas", ela segue outra de suas bandeiras de sempre, a feminista, e investe contra a hipocrisia macha-machista-misógina: "Eles amam as loucas/ mas casam com outras" (com as chatas de "Tão", provavelmente). Em "Paradise Brasil", pressiona de leve a veia política (também reacionária) que a atormenta, num beliscão sutil ao país natal, visto por ela, para variar, como paraíso tropical-tropicalista habitados por carmens mirandas, bananas e tucanos (esses a letra não cita).
Mas a melhor verve da Rita 2012, e aqui ela vence de lavada os manos Caetano e Bethânia, é a da canção de autoxingo. Dona Lee é mestre em se autoavacalhar, daquele jeito que faria Eduardo Dussek, daquele modo inteligentíssimo que critica você e eu parecendo que está esculhambando apenas a si. "Divagando", "Vidinha" e "Tô um Lixo" são as obras-primas de Reza nessa vertente.
"Divagando/ devagar/ quase parando/ de pensar", glosa o mote-mantra da primeira. "Faço terapia/ malho todo dia/ pratico ioga/ não uso mais droga/ tomo ansiolítico/ em estado crítico/ na crise de pânico/ propofol orgânico", reforça a segunda, entregando as agruras de estar às portas da "melhor idade" (dona Rita tem 64). E o refrão explode: "Vidinha besta/ vidinha furreca/ vidinha chinfrim/ ô vidinha de merda". Se a vida dela, que é pop star, é assim, imagina a nossa.
"Tô um Lixo" é outro primor de autoavacalhação: "Parei de fumar/ parei de beber/ parei de jogar/ parei de ser aquele ser cafajeste/ aquela peste/ nem banho tomo mais/ trabalho tanto faz/ a cabeça tá um jazz/ eu vivo pelos cantos feito bicho/ eu tô um lixo". Trata-se de reclamol azedo tipicamente paulista (até nessa linha Rita é a nossa maior compositora em atividade via São Paulo — inclua mulheres e homens). O queixume, no entanto, é atenuado pela agridoçura da melodia, vibrante e tipicamente bubble gum.
Uma quarta faixa expõe, de modo camuflado, o instinto autodepreciativo de Rita Lee. "Bamboogiewoogie" faz espelho com "Paradise Brasil" no papel de manifesto sempre-tropicalista, que Rita, como Caetano, nunca esquece de sublinhar. Eletrônico como quase tudo no disco, o arranjo faz lembrar um baião pós-tropicalista, um afago da paulistana profissional no pernambucanismo centenário de Luiz Gonzaga — bem mais antenado com 2012 que a dance-house de "Paradise Brasil".
De novo, Rita repete chavões da "tropicania" tropicalista, inaugurando neologismos trôpegos como "tupinikingkong", "babalorixamego", "bamboogiewoogie" — o universal & o local, o Brasil & o mundo, o som universal, todas aquelas mumunhas antropofágico-modernistas-tropicalistas. Só que há ali um refrãozinho, o mais confessional do CD, na mais inspirada de suas faixas: "Eu I love you, mas você não love me eu".
A compositora costuma reclamar que paulistanos e corintianos não gostam dela — que, por sinal, é paulistana e corintiana, logo... Dois versos antes do refrão, já entregou de bandeja a relação com o Rio de Janeiro: "Copacabana me engana que eu gosto". Pensemos em "eu I love you, mas você não love me eu" como queixa direcionada não a uma pessoa, mas a uma cidade (São Paulo?), um estado (Rio?), um país (Brasil). "Voy a me matar, atirar-me da ponte, se não me quieras", dramatiza em portunhol ao final, com voz de pândega em chantagem emocional bem paulista embutida na eterna rixa autofágica da tropicália com o Brasil.
Mesmo considerando que Rita sempre foi muito mais leve na brasilfobia que seus herdeiros da geração pop-roqueira dos anos 1980, a tensão perene resiste: afinal, quem não gosta de quem nessa joça?
Se há resposta para isso em Reza, está em "Bamboogiewoogie", em "Paradise Brasil" e nas faixas que são a especialidade de Rita & Roberto, as gomas de mascar transnacionais com letras feitas de trocadilhos aparentemente bobos: "Gororoba", "Bagdá",  "Tutti Fuditti".
"Gororoba" cobiça a cultura pop norte-americana (é uma canção-"merchan" perversa, um tributo cafajeste à Coca-Cola), mas comunica-se diretamente com o "seu garçom, faça o favor de me trazer depressa uma boa média que não seja requentada" de "Conversa de Botequim" (1935), do carioquíssimo Noel Rosa. Muito já se disse que o pop de Rita & Roberto era um modo excêntrico de fazer marchinha carnavalesca, samba ou coisa parecida, e é por aí mesmo que a barca corre.
"Bagdá" brinca com termos sonoros derivados da cultura árabe. E joga um "vatapá" entre tabules, esfirras, quibes e húmus. O próprio Caetano parece gostar da semelhança física com Bin Laden — citado explicitamente em "Bagdá", entre (Salvador d')Ali Babá e Saddam Hussein. Quem ousaria citar simpaticamente tais vilões mundiais numa letra pop? Rita Lee ousaria — ela, que em 1976, em "Arrombou a Festa", foi a única a furar um cerco de concreto armado e citar nominalmente o então já proscrito Wilson Simonal.
Em "Tutti Fuditti", por fim, a brincadeira é com termos italianos (e nem à distância passa por citar seu grupo setentista-feminista, o Tutti Frutti, como se pode a princípio deduzir). "Siamo tutti fuditti/ maledetto mondo cane/ voglio a mangiare dinamite, dinamite, dinamite", ela pipoca, em versos que, pensando bem, são autoesculhambativos ("maledetto mondo cane", "alegro ma non treppo") e chantagistas emocionais paulistanos profissionais ("voglio mangiare dinamite").
O arranjo de"Tutti Fuditti" lembra de perto a Rita Pavone de "Datemi un Martello" (1964) e, por intermédio dela, o iê-iê-iê praticado nos anos 1960 a partir de São Paulo, Celly Campello, Os Incríveis, Wanderléa e que tais. Ainda que seja por vieses estadunidenses, árabes, italianos ou punk-roqueiros, Rita Lee é paulistanidade pura, entre gostosos e amorosos e sofisticados tratamentos musicais.
Deixa de manha, dona irRita, a gente também te ama - que discaço, o seu novo.

Justiça de Sergipe dá prazo de dez dias à Rita Lee



Rita   deve se pronunciar se aceita devolver cachê de R$ 115 mil
Rita Lee (Foto: Arquivo Portal Infonet)
A assessoria jurídica da cantora Rita Lee ainda não se pronunciou sobre a carta precatória enviada pela Justiça de Sergipe à Comarca de São Paulo, para que defina em um prazo de dez dias se vai acatar ou não a proposta de suspensão condicional do processo de desacato a autoridades e apologia ao consumo de drogas, durante show da cantora no município da Barra dos Coqueiros, em 28 de janeiro de 2012.
A proposta do Ministério Público é para que Rita Lee preste serviços comunitários por um período de três meses e ainda que doe o cachê de R$ 115 mil recebido pelo show pago pelo Governo de Sergipe quando da realização do Verão Sergipe 2012. O dinheiro deve ser destinado ao Fundo Municipal para Criança e Adolescente do Município de Barra dos Coqueiros.
A confusão no último show da carreira de Rita Lee repercutiu em todo o país. A cantora considerou o comportamento de policiais militares que faziam a segurança no local, abusiva, tendo utilizado palavras de baixo calão. Termos como “cachorro e cavalo” foram usados pela artista paulista contra os policiais. Após o show, já na madrugada do dia 29, ela prestou depoimento ao delegado Leógenes Corrêa, responsável pelo plantão na Delegacia Plantonista. Ele lavrou um Termo Circunstanciado e Lee foi liberada.
Na ocasião, o governador Marcelo Déda (PT), que estava no show, afirmou que Rita Lee “buscou colocar o público contra a polícia, que estava cumprindo o seu papel, além de induzir as pessoas ao consumo de drogas”.
Por Aldaci de Souza

Fantástico: Rita Lee fala pela 1ª vez sobre o transtorno bipolar



 Fantástico: Rita Lee fala pela 1ª vez sobre o transtorno bipolar

O ‘Fantástico’ deste domingo, dia 6, traz uma entrevista exclusiva do apresentador Zeca Camargo com a rainha do rock brasileiro conta sobre a criação do novo disco ‘Reza’, que lançou recentemente, depois de nove anos sem lançar novos títulos. A cantora fala ainda sobre o final da carreira e sobre as polêmicas com as quais esteve envolvida ultimamente. E, por falar em  grandes ídolos, o programa desta semana mostra a mágica que permite que as pessoas assistam a um show de um artista que não está mais vivo. O jornalista Marcos Losekann esteve no escritório, em Londres, da empresa responsável pela tecnologia que permitiu “a presença” do falecido rapper   Shakur em um espetáculo. Eles explicam como funciona o surpreendente truque e adiantam que a família do cantor Michael Jackcson já está até planejando uma nova turnê internacional do cantor usando essa técnica.
Ainda nesta edição, uma reportagem especial investiga a violência contra a mulher no Brasil. O repórter Marcelo Canellas mostra os resultados de uma pesquisa feita pelo Ministério da Justiça sobre os homicídios cometidos contra a mulher e revela uma estatística assustadora: no Brasil, a cada cinco minutos, uma mulher é espancada. O jornalista visita os Estados que apresentam os maiores e menores índices de ocorrências no Brasil e mostra o que estão fazendo para tentar combater estes crimes.
O próximo episódio da série ‘Acidentes Domésticos – O Perigo Dentro de Casa’ fala sobre as quedas, que representam mais de um terço do total de acidentes domésticos no país. De acordo com o SUS, são registradas mais de mil quedas por dia e, a cada três dias, uma pessoa morre  em São Paulo depois de cair dentro da própria casa. Os dados apontam que por volta da metade desses incidentes acontecem com crianças e adolescentes, e cerca de 30% dos idosos brasileiros sofrem pelo menos uma queda ao ano. O médico Drauzio Varella conta, esta semana, a história de Thays Fernandes Farias, de 30 anos, que caiu em casa ao tentar limpar uma calha entupida por conta da chuva. Para conseguir fazer o serviço, precisou andar em cima de telhas de amianto, que acabaram quebrando. Thays teve uma fratura exposta no pé esquerdo e atualmente está em processo de fisioterapia para voltar a andar normalmente.
O ‘Medidinha Certa’ deste domingo mostra como o videogame pode também ajudar a criançada. O preparador físico Márcio Atalla cita estudos que revelam como estes novos jogos – que associam tecnologia e movimento – são uma alternativa divertida e saudável para os pequenos. “É claro que nada substitui o jogo, a brincadeira ao ar livre, mas é um bom caminho para quem quer começar”, explica. E, para conferir como andam as habilidades do Wilame, o garoto magrinho que comia mal antes de entrar no projeto, o quarteto da banda Restart foi até a casa dele, em Osasco. Wilame adorou jogar com os ídolos, mas disse que ainda prefere brincar na rua. Os meninos da banda aproveitaram para sugerir um desafio de skate com o garoto para um próximo encontro.
Para comemorar 60 anos, a Esquadrilha da Fumaça cruza os céus do Brasil com emocionantes acrobacias, e o ‘Fantástico’  mostra como é o trabalho dos pilotos do esquadrão de demonstração aérea da FAB.  Também em clima de festa, o programa acompanha a viagem de um grupo de fãs de charme. Eles vêm de Brasília ao Rio de Janeiro para conhecer um baile no Viaduto de Madureira. O repórter Maurício Kubrusly visita a festa e confere as habilidades da turma com o ritmo.
O ‘Fantástico’ vai ao ar aos domingos logo após o ‘Domingão do Faustão’.

Arquivo Rita Lee-matéria de adrianacrisanto | junho 7, 2007


“O rock também tem ovários e úteros”. É assim que tem início o “Cor de Rosa Choque”, primeiro volume de Biogratti uma luxuosa caixa de três DVDs da cantora e compositora Rita Lee, lançado recentemente pelo selo-gravadora Biscoito Fino. O DVD “Cor de Rosa Choque”, a vóvó Ritinha mostra o universo feminino em que foi criada. As gravações, em estúdio e shows, trazem canções antológicas como “Todas as mulheres do mundo,” “Pagú”, “Doce Vampiro”, “Bwana”, “Erva Venenosa” e outras.
Algumas imagens, neste primeiro volume, foram retiradas do show gravado, em novembro de 2006, no Morro da Urca, Rio de Janeiro. Arquivos preciosos contam com a presença de duas poderosas mulheres da música brasileira: Elis Regina e Cássia Eller. Com Eller a roqueira canta Luz Del Fogo (uma gravação antiga da MTV) e “Doce Pimenta”, que segundo a cantora, foi composta para homenagear Elis Regina, que deu uma força a Rita quando a mesma foi presa em 1976 por porte ilegal de maconha.
“Nunca fui uma mulher gostosa, mas sempre expressei muito bem minha sexualidade no palco e na música”, diz a cantora na série depoimentos do primeiro DVD, onde também deixa claro o seu lado feminino cruel e submisso ao mesmo tempo. “Mas, você sempre foi uma mulher gostosa. Só que a estética na nossa época era outra”, rebateu o seu eterno companheiro Roberto de Carvalho responsável pela direção musical.
O rock de Rita Lee sobreviveu a seus próprios instintos autodestrutivos e, por partes de uma perpétua mutação, deixou seus traços em gerações sucessivas. “Rita Lee é mais do que musa. É estátua da liberdade”, diz Caetano Veloso que juntamente com a irmã Virginia Lee e o filho Beto Lee compõe a série de depoimentos do DVD.
Em “Ovelha Negra”, segundo DVD, ela mantém sua fama de mal e em cenas recentes retorna ao Instituto Pasteur, de São Paulo, de onde saiu expulsa no antigo curso científico, porque, segundo ela, tacou fogo no teatro. Rita Lee revela ainda que tinha o hábito de fazer xixi no sapato das amiguinhas no vestiário da escola. Está é passagem do DVD é muito bem sacada. A cantora encontra a porta da escola fechada e retorna como uma equipe de filmagem, disfarçada de Aníbal, um de seus personagens preferidos para sair na rua.
No segundo DVD a ovelha também descreve a família. Sobre o pai, que era cirurgião dentista, ela comenta que o pai era filho de americanos e um sujeito muito feio. “Ele não era bad boy, tinha alcoolismo, um traço que eu também tenho. Mas quando eu nasci ele resolveu parar de beber”, revelou a cantora. A mãe, por sua vez, era filha de italianos, devota de Nossa Senhora Aparecida e muito religiosa. “Minha mãe quase desaba quando viu a filha no festival vestida de noiva e grávida. Infelizmente ela ficou muito doente, meu pai, minhas irmãs e eu vimos aquela princesa se definhando”, conta.
Sobre os ídolos Rita Lee nunca escondeu suas preferências e neste trabalho ela rende homenagens a Carmem Miranda, com seu samba rumbado, Fred Astier e ao seu ídolo máximo James Dean, do qual estampa numa camiseta em um dos shows da caixa, gravado na praia de Copacabana.
O primeiro grupo formado pela cantora foi o “Teenage Singers”, um quarteto feminino composto no colégio. “Cantávamos muito bem e tocávamos muito mal. Um repertório que girava de “Tous les garçons et les filles”, sucesso da francesa Françoise Hardy a “500 miles”, dos americanos Peter, Paul & Mary. Aí apareceram os Beatles e a gente caiu de boca”, escancara.
Depois da Teenage Singers outro grupo se formou. Desta vez o Wooden Faces, que, de acordo com a cantora, cantavam mal e tocavam bem. Da dissolução dos dois saíram “Os Bruxos”, que Ronnie Von levou para seu programa de TV na antiga TV Tupi. O apresentador rebatizou a banda que passou a se chamar “O planeta dos mutantes”. 
A estréia, segundo Rita, foi com a “Marcha Turca” de Mozart. Os irmãos Arnaldo e Sérgio Dias Baptista já faziam parte do grupo quando foi convidado para defender, no Festival de Música da Record, em 1967, a música “Bom dia”, única parceria com Gilberto Gil. No ensaio, diz a cantora, Gil ficou deslumbrado com a guitarra fabricada pelo quarto Mutante e terceiro irmão Baptista, Cláudio Cezar. “Ele era capaz de criar instrumentos que reproduzissem qualquer som de qualquer disco que a gente levasse para ele. Foi ele quem descobriu o theremim, invenção de um russo que ninguém conhecia por aqui. Gil convidou o grupo a acompanha-lo em seu Domingo no parque”, disse.
A guitarra ainda era tabu entre o pessoal da MPB, mas Gil e Rogério Duprat fizeram o arranjo. “Caetano e Gil é que me deram as dicas de como fazer música brasileira. Foram de uma generosidade… de mostrar no papelzinho. Finalmente conheci meu lado brasileiro. Sou mais brasileira que Pelé, ou tanto quanto, mesmo sendo filha de imigrantes. Ou quanto o Geraldo Vandré”, brinca a cantora com a situação.
A música “Balada do louco”, parceria dela com Arnaldo, Rita atualiza a letra, citando Giselle Bundchen e Osama Bin Laden, e reconstitui a célebre cena de como foi expulsa dos Mutantes. “O Arnaldo falou, nós vamos fazer música progressiva. Você não toca nenhum instrumento. Fiquei chocadíssima, mas no meu orgulho disse, ‘tá bom’, recolhi minhas coisas da comunidade da Cantareira e fui embora. Mutantes ficarem imitando Emerson, Lake & Palmer que eu adorava, Yes, que eu adorava, mas imitar…”, critica.
Para quem disse que Rita Lee parecia que iria pendurar as chuteiras em cada edição dos DVD’s a cantora mostra uma música nova em processo de composição. O terceiro DVD é composto por cenas do show ao vivo na praia de Copacabana, onde aparece com uma camiseta estampada “Eu sou o Rio”, cidade que recentemente concedeu a artista o título da cidadã carioca.
João Gilberto também aparece nas imagens do DVD cantando com Rita a canção “Jouxjoux et balangandans” de autoria de Lamartine Babo (repertório de Mário Reis). As imagens são de 1980 e foi cedido pela TV Globo. As revelações são constantes nos DVD’s, a exemplo da canção Mania de Você, composta em cinco minutos após uma longa noite de amor com o marido Roberto de Carvalho.
Nos extras outra participação muito bacana é a do cantor e compositor Tom Zé. “Vai ser muito chato isso. Ninguém vai falar mal dela”, diz o cantor que ao mesmo tempo que esculhamba com a filmagem, homenageia a cantora e revela que a parceria que fizeram em 2001 (dos versos proféticos, “computador me resolve”), de 1968. Inicialmente o próprio Tom Zé fez música e letra, mas não gostou do resultado final nem do nome inicial, “Astronauta libertado”. “A Rita fez uma música caipira como Kubrick utilizou no filme 2001 uma valsa, que é a música caipira deles”, comentou. 
Ao final Rita Lee revela que está cansada das turnês e que passa a maior parte do tempo em casa, tocando, compondo ou brincando com a netinha Isabella, filha de Beto Lee, mostrada em várias performances com a vovó Ritinha nos corredores do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Adriana Crisanto
Repórter

terça-feira, 1 de maio de 2012

Música da Hora - Vidinha (Rita Lee)


Rita Lee - Vidinha

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Publicado em 01/05/2012 por 
Faixa do CD Reza.