terça-feira, 24 de julho de 2012

Rita Lee é pra se ouvir de joelhos e com “reza” boa

 


Quando eu conheci a Rita passei a compreender de onde brotava o rock que tanto falavam no Brasil. Não há nada mais gostoso que ouvir a exploração dos instrumentos e de uma voz que recusa playback, após a Jovem Guarda, que vestiu o País de jaqueta preta. Depois que o Brasil conheceu a trupe da Jovem Guarda, eis que surge a mulher que deixaria de joelhos aos seus cabelos acobreados. Pra rezar? Agora sim! Mas ela nunca negou seu teor revolucionário. Quando eu ouvi as guitarras de Roberto de Carvalho e de sua prole Beto Lee, e mais recente e com audácia as introduções do piano de Danilo Santana, eu conheci uma das minhas predileções, o rock, mas o da Rita Lee. Agora com “Reza”, seu mais novo e impecável álbum, cheio de balangandãs e balacobacos.

Ouvir Rita Lee é um pouco além de estourar uma trincheira, ultrapassar uma geração, retroceder e interceder, ir além de qualquer tempo, reler e queimar seus próprios contos e ver chamuscar arte. A Rita é um vulcão! Prepare-se para aprender novos adjetivos, porque eu vou precisar de muitos daqui pra frente!

“Por causa de um baseadinho?”, foi a frase que trouxe de volta as indagações de Rita Lee para a história. Ela chegou a ser convocada para depor numa delegacia, em seu show de despedida dos palcos em Sergipe, após incomodar-se com a presença de policiais revistando fãs em seu show. E foi, sem arrependimento. Não precisamos levantar bandeira alguma, mas seu verbo é transitivo e eu assino embaixo.

O dia em que nos encontramos eu tinha pendurado no ombro uma câmera fotográfica. Mania de jornalista em andar com o olho eletrônico sempre ao alcance, espreitando o que pode acontecer no caminho. Dei-lhe um abraço, típico de quem encontra a Rita, e seu frenético batom avermelhado, que contrasta com os cabelos, fitou meu rosto e alimentou seu sorriso. A Rita colocou as mãos na minha câmera e disse: “Isso aqui não é feito pra fotografar? ‘Tá’ esperando o que pra tirar nossa foto?”. Isso é artista que se respeite? É! Tiramos a foto e o carro chegou. Foi uma das últimas vezes que nos vimos. Estou com saudades. O palco, mais ainda!
No episódio em que Rita foi autuada pela polícia, marcara, tipicamente, sua despedida aos palcos. Os devera roqueiros derramavam lágrimas e já inspiravam as saudades. Mas, enquanto fechava sua vida dos palcos, Rita e Roberto preparavam um álbum de cetim. “Reza” chegou para coroar os cabelos de fogo e nos colocar a ouvi-la de pernas pro ar. Rita, então, despedia-se dos palcos.

“Reza” tem uma coisa que talvez um filho, ludicamente falando, de Dorival Caymmi e Janis Joplin representaria em pessoa. O batuquinho do baticum de uma macumbinha, com a magnífica versão de rock dedilhada com gozo nas guitarras e nos graves do baixo mestre. Tantas palavras, algumas que vou inventando, outras que já ouvi entre a Bahia, São Paulo, Rio e Londres, mas são cabais para falar de “Reza”. Os trabalhos abrem-se com a primeira faixa chamada “Pistis Sophia”, e como o Mar de Sophia e o Mundo de Sophia, clássicos, desvelam a religiosidade de Rita. É um auto-retrato de fé, num ruído gostoso. Consigo ver Rita beijando santinhos, inventando suas próprias orações e pouco se lixando pra opinião de sua versão ateia de se viver. São sons, sem predicados, com a função de introduzir o álbum, jogar os búzios na mesa, limpar o congá, jogar arruda na cabeça, dar um trago no charuto, jogar o uísque pra trás e lavar as mãos com água de cheiro. Sem esquecer dos três nós na fitinha do Bonfim. “Reza” começa assim, trazendo em seguida a música que intitula o álbum.

Rita Lee Jones, já foi batizada com nome de artista, nasceu no último dia do ano, na capital paulista, e foi descrita por Caetano Veloso como “a mais completa tradução” de São Paulo, na canção “Sampa”. No Brasil, é a cantora que mais vendeu álbuns na história, com mais de 65 milhões de cópias.

Rita integrou os Mutantes, na década de 60 e meados de 70, onde serviu letras até hoje reconhecidas em sua voz com uma lembrança enxuta dos fãs. Sempre com o dom de improvisar instrumentos, chegou a utilizar uma bomba de dedetização para sonorizar “Caminhante Noturno”. Quando deixou o grupo, ao fim de seu casamento com o outro integrante, Arnaldo Baptista, juntou-se com a amiga Lúcia Turnbull para lançar a dupla As Cilibrinas do Éden. Com o término da dupla, Rita ingressou no Tutti-Frutt, e em seguida fez carreira solo, quando, entre outras, lançou “Ovelha Negra”, mostrando que compositora era. Em 1976 conheceu Roberto de Carvalho, com quem teve três filhos e laçou uma estupenda parceria musical. Um dos filhos é Beto Lee, guitarrista de dedos afiados, que deu-lhes de presente a neta Izabella, pondo outra personagem factual da família Lee para correr pelos corredores do colorido lar de Rita e Roberto.
Na época em que o rock ganhava cores tropicalienses havia uma certa divisão na música. A ditadura rolava solto pelas ruas e a censura pilhava os palcos. Homens sem escrúpulos algum tomavam conta do que hoje chamam de política. Elis Regina passava pelos corredores de festivais sem levantar assunto com Rita Lee, mesmo a encontrando pelo caminho. E quem nunca admirou a jazzística voz de Elis? Rita, mesmo a adorando, ficava na dela.

Em 1976, Rita é presa por porte de droga. Não que a tenha usado, mas amigos frequentavam sua casa e largavam fagulhas pelas peças. Grávida ouvia suas músicas em mente por detrás de ferros quentes da prisão. A única a visitar foi Elis, e essa foi tamanha surpresa. Como grandes amigas, Elis fazia rebuliços na prisão, e quando Rita saiu a colocou pra cima, convidando para espetáculos e musicais. A chamava de Maria Rita, e anos depois, ao nascer sua única filha, a batizou com o apelidinho que nomeava a amiga do rock.

Em 1996 Rita Lee, enquanto brincava com seu cachorro, caiu da sacada de sua casa e triturou o côndilo maxilar. O episódio quase a afastou definitivamente da música.

Não posso deixar de relembrar um encontro histórico. Rita em casa, toca o telefone e o pai da bossa apresenta-se cantando “Mania de Você”, ainda ao telefone. Rita cai em si, e comprova a veracidade da sorrateira voz que sussurra sua composição. João Gilberto, ao outro lado da linha, a convidava para gravar, em 1982, um especial seu na TV Globo. Enviou para ela uma fita com a canção “Jou Jou Balangandãs”, e continuava a telefonar para explicar tudo sobre a música. Além de tudo disse o vestido que ela usaria. A apresentação aconteceu, sem ensaio. Foi uma das únicas vezes que vi João Gilberto cantar de pé.

Rita Lee mandou para as agulhas das vitrolas inúmeros Lps. Eu ainda admiro muito aquela capa azulada em tons de água, com os traços tropicais, do álbum que trazia seu abraço com Roberto de Carvalho. Tenho ele comigo. O som do disco é mais íntimo, aquele ruído da agulha beijando o acetato constantemente é como ouvir os pássaros que solfejam na penúltima faixa de “Reza”, que também ganhou bela versão em disco.
Essa penúltima faixa tem um nome bem complicadinho de pronunciar, mas fica fácil na segunda estrofe. As músicas de versos e cheias de transições instrumentais e com bárbaros solos gravam rápido na cabeça da gente. Duas vezes ouvindo o CD eu já estava repetindo “As Loucas” e “Tô um Lixo”, ambas com letras rápidas e de um entendimento direto. Voltando à penúltima faixa, “Bamboogiewoogie”, tem um cangerê com cordas e palmadas. É uma novidade, como foi “Bat Macumba”, na Tropicália.

“Reza” tem o calibre da Biscoito Fino, que é a casa, em plena sala de estar dos bons amigos. Dos bon vivants, da boa música.

No último show em que fui havia uma banda, vou poupar os palavrões, que aliás, já evitei durante todo o texto, que era “boldo na veia”. Danilo Santana arrebentando nos teclados, como se fosse a ópera do rock. As cordas regidas por Beto Lee e Roberto de Carvalho, além do baixo de Brenno Di Napoli. Os vocais de apoio de Rita Kfouri e Debora Reis e as pancadas na bateria de Edu Salvitti. Voltei pra casa neste dia sem querer ouvir mais nada durante uma semana. Eles todos são muito bons.
Não vou ficar falando das outras músicas, apesar de não ter falado nada sobre “Reza”, a segunda faixa do álbum. Cada um tem uma reza, a da Rita é cheia de mandingas. Imagine um patuá cantado. Isso é “Reza”, a canção guardada que foi jogada a rosa dos ventos desenhada na capa do CD. Mas, não é uma rosa dos ventos. São as cópias do olhar de Rita banhado pelos fios vermelhos de suas madeixas. Ouçam o disco inteiro e verá que cada um tem algo a declarar. Ou cale-se, vá pintar. Ela faz assim! É interessantíssimo.

Rita Lee deixou no ar sua volta aos palcos, após declarar que não voltaria mais a fazer shows. Eu estou apostando que volta. Sua intimidade é o palco, é o som, é estar entre suas mais chegadas guitarras e de apito na boca.

Rita, volta que a gente tá esperando você!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Rita Lee canta a música “Tô um lixo” durante o Altas Horas

Tô Um Lixo(Rita Lee)cd REZA 
Parei de fumar
Parei de beber
Parei de jogarParei de ser aquele
Ser cafajeste
Aquela pesteNem banho tomo mais 
Trabalho tanto fazA cabeça tá um jazz
Eu vivo pelos cantos feito bichoEu tô um lixo 
 
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Nove anos sem lançar um disco de inéditas, Rita Lee presenteou seu fãs recentemente com o lançamento do CD “Reza”. Apesar da boa notícia, a cantora havia declarado em janeiro que estava se aposentando do palco. “Aposento-me de shows, da música nunca”, escreveu em uma rede social.
Neste sábado, dia 21 de julho, Rita Lee voltou a se apresentar na televisão durante o programa Altas Horas e mostrou que pode rever a sua decisão. “Quem sabe aqui deu o click para voltar aos palcos”, afirma. A cantora vai além e diz que pelo apresentador Serginho Groisman voltaria a fazer shows: “Por você, eu volto”.
Quem também se mostrou animado com possíveis apresentações é o marido de Rita Lee, o guitarrista Roberto de Carvalho. “Eu acho que a gente vai eventualmente voltar a fazer show”, comenta o músico.
Altas Horas com a participação de Rita Lee foi ao ar no sábado, dia 21 de julho e também teve participações de Malu Mader, Lilia Cabral, Pitty e do goleiro do Barcelona, Víctor Valdés.

Pérolas de Rita Lee

 
Pra que
Sofrer com despedida?
Se quem parte não leva,
Nem o sol, nem as trevas
E quem fica não se esquece
Tudo o que sonhou, eu sei
Tudo é tão simples que cabe
Num cartão postal
E se a história é de amor
Não acaba tão mal.

Se por acaso morrer do coração,
é sinal que amei demais.
Mas enquanto estou viva,
cheia de graça,
talvez ainda faça
um monte de gente feliz.

"enquanto estou viva
Cheia de graça
Talvez ainda faça
Um monte de gente feliz!"

A inocência não dura a vida inteira
Brinque de ser sério
E leve a sério a brincadeira


Eu tava aqui pensando, pensando... no ano dois mil e vinte como será que vai estar o Brasil?
Será que vai ter floresta, pelo menos uma?
Será que ainda vai ter um índio, dois, uma tribozinha?
Será que vão sobreviver, heim gente?
Será que a gente aguenta?
Derrepente os trombadinhas crescem e viram políticos, que pena. É, o Brasil é tão bonito, não é?
Um país doido este...

Não quero luxo nem lixo
Quero saúde pra gozar no final

Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida...

então sente no meu colo.

Mania de você

Meu bem, você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor de tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras

A gente faz amor por telepatia
No chão, no mar, na Lua, na melodia...
Mania de você, de tanto a gente se beijar,
De tanto imaginar loucuras...

Nada melhor do que não fazer nada
Só pra deitar e rolar com você...
Nada melhor do que não fazer nada
Só pra deitar e rolar com você...

E pensar que eu passei todo esse tempo
Investindo no meu know-how
E pensar que eu quase me danei
Apostando no meu background

Eu ando jururu
I don’t know what to do
Quero encontrar pelo caminho
Um cogumelo de zebu

E descansar os meus olhos no pasto
Descarregar esse mundo das costas
Eu só quero fazer parte do backing vocal
E cantar o tempo todo shoobeedoodauda

A vida tem disso
No fim tudo faz sentido
Então até mais
Não adianta olhar pra trás

Pelo caminho de espinhos
Avistei um mar de rosas
Pra chegar até lá
Eu preciso um pouco mais de tempo
Preciso de um grande amor
Preciso dinheiro, preciso de paz

No reino das águas claras
Amanheceu a noite mais cedo
Debaixo do meu travesseiro
Eu encontrei um poço de desejos

Na minha terra onde tudo na vida se da um jeitinho
Ainda hoje invasores namoram a tua beleza
Que confusão veja você, no mapa mundi está com Z
Quem te conhece não esquece meu Brasil é com S



"Nunca soube dizer de onde vim nem pra onde vou. Vivo nesta terra em transe, cheia de sol, cheia de horror."

...Nessa canoa furada, remando contra a maré... Não acredito em nada... até duvido da fé...


"


Adoro cicatrizes, tatoos da vida. Me fazem lembrar que eu fui mais forte do que aquilo que me feriu...


Você não precisa me entender, basta me amar. Se não me amar basta me aceitar. Se não me aceitar dá unfollow e não se fala mais nisso.

 
Eu sou do tempo do onça, d qdo os bichos falavam pela Rádio Nacional. Tempo da marchinha d carnaval, dos concursos d miss. Ah, eu era feliz. u sou do tempo do onça, d qdo os bichos falavam pela Rádio Nacional. Tempo da marchinha d carnaval, dos concursos d miss. Ah, eu era feliz. Sou daquele tempo q rock era pecado, do let me sing do Raul, do cogumelo d Zebú, da musa Leila Diniz. Ah, eu era feliz. Eu sou dos novos tempos, do fim do vinil, do boom da bunda d Madonna, da zona no Brasil, do kaos no país. Ah, eu era feliz

 
Quem é que pode ser gigante nesse mundo tão pequeno? Como é que faz pra gente ser feliz e rico ao mesmo tempo? Eu não sei, mas eu vou tentar. Todo remédio que me cura tem uma contra-indicação. O que faz bem pra alma pode fazer mal pro coração de quem tem pressa de chegar. Ai quem me dera um dia, ficar de papo pro ar, tirando um som de uma viola.


Filé 'minhão', 'champinhão', 'Don Perrinhão'
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta...

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha Eguinha Pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída
Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida
É o fim da picada
Depois da estrada começa
Uma grande avenida
No fim da avenida
Existe uma chance, uma sorte
Uma nova saída
São coisas da vida
E a gente se olha, e não sabe
Se vai ou se fica
Qual é a moral?
Qual vai ser o final
Dessa história?
Eu não tenho nada pra dizer
Por isso eu digo
Que eu não tenho muito o que perder
Por isso jogo
Eu não tenho hora pra morrer
Por isso sonho

“Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim.”

sexta-feira, 20 de julho de 2012

“Altas Horas”com Rita Lee

RITA LEE:


Rita Lee gravou uma participação especial no “Altas Horas”, de Serginho Groisman, que vai ao ar no sábado (21). Com direito a fã-clube na porta e tietagem até de famosos, a rainha do rock recebeu homenagens de Malu Mader, Lilia Cabral e Pitty. Rita se apresentou ao lado do parceiro musical e marido, Roberto de Carvalho, e do filho mais velho, Beto Lee. E cantou sucessos novos, como “Reza” e “Tô Um Lixo”, e clássicos, como “Saúde” e “Flagra”.


Na gravação, que a QUEM acompanhou de perto e com exclusividade, Serginho criou uma campanha, “Volta, Rita”, para que a cantora, que anunciou a aposentadoria dos palcos em janeiro, não deixe de fazer shows. E Lilia chegou a ficar com os olhos cheios d’água: “Você não tem que parar coisa nenhuma!”. A homenagem acontece no momento em que Rita e o parceiro Roberto inauguram uma nova fase de autogestão empresarial, a ser encabeçada por ele, que já foi o empresário por trás do sucesso da dupla nos anos 1980.



E a roqueira arrancou risos da plateia até ao falar sobre sua fase serena. “Eu estou tão santa! Pintando. Até parei de fumar”, disse ela que, logo depois, arrebentou uma de suas pulseiras ao tirar a camisa. De quatro, Rita vasculhou o chão em busca das contas, para gargalhada geral de quem está a sua volta. Malu Mader, que respondia a uma pergunta da plateia, ao ver a cena, riu junto com o público e disse: “Eu amo essa mulher”.